Música

"The sound of music": tentativa de contar a história da música no cinema!

Posted on julho 20, 2007. Filed under: cinema, Darwin Marinho, Música |

*Antes de começar, indico que leia ouvindo o incrível John Williams, eu recomendo a trilha de o Retorno de Jedi.
http://musica.busca.uol.com.br/radio/index.php?busca=john+williams¶m1=homebusca&check=artista#

É muito estranho ver imagens sem som, tanto que nem o cinema conseguiu ser totalmente mudo, não havia fala, mas o som estava lá. As exibições eram acompanhadas por um pianista que improvisava músicas a partir das imagens projetadas. Algumas salas mais sofisticadas usavam uma orquestra inteira, e poucos filmes usavam trilhas originais. Chaplin foi pioneiro ao escrever partituras que deveriam ser tocadas em cada cena de seus filmes, eram músicas simples que se adequavam ao seu estilo de filme.

Não faz muito tempo que escrevi sobre a relação som/imagem aqui no blog, mas agora vou tentar fazer uma análise mais profunda. No século XIX a música instrumental era dividida em absoluta e programática. A absoluta não utilizava nenhuma outra forma de apreciação para ser construída, seria a música feita por ela mesma, um exemplo disso seria a música de Bach, além disso, era uma música mais tradicional. A música programática teria surgido com o Romantismo na metade do século XIX, seria a música inspirada em formas não-musicais, a arquitetura, a natureza, exemplos disso são As Quatro Estações de Vivaldi e a Sexta sinfonia, a Pastoral, do meu caro Ludwig Van. Nessas musicas ainda não havia a intenção de contar uma historia através de uma sinfonia, isso só foi apresentado pelo francês Hector Berlioz em sua Sinfonia Fantástica que contava partes diferentes da historia em cada movimento da música.

O estilo criado por Hector Berlioz inspirou o Poema sinfônico desenvolvido por Franz Liszt. As músicas nesse estilo eram totalmente guiadas pela narrativa. Tchaikovsky e Richard Strauss tambés se aventuraram nesse estilo e compuseram músicas inspiradas em obras de Shakespeare e Cervantes. Essa união de música e literatura fascinou jovens artistas do séc. XIX criando uma escola desse estilo. Richard Strauss era considerado por Debussy “um compositor cinematográfico, por ser sua obra uma infinita fonte de imaginação cinemática, gerando uma cadeia de imagens estimuladas pelo som da grande orquestra”. E não posso deixar de citar Richard Wagner que criou dramas musicais (Tristão e Isolda, O Navio Fantasma) onde cada tema musical caracterizava uma ação do personagem.

No início século XX o mercado fonográfico passou por muitas mudanças e a música sinfônica tradicional perdeu muito de seu prestígio. Os compositores que não se adequaram às mudanças dos novos tempos foram para o cinema. Toda aquela história de música programática resultou nas trilhas cinematográficas.

Em 1926 surgiu o Vitaphone,tecnologia patrocinada pelos irmãos Warner, Era um aparelho que incluía um projetor e um toca-disco que sincronizava o som e a imagem, o primeiro filme sonoro a ser exibido foi The Jazz Singer(1927) com Al Johnson, o primeiro onde era possível ver alguém falar e cantar. Tinha muitos problemas, o chiado, por exemplo, e caso o disco arranhasse? A sincronia era perdida e o filme ficava insuportável. Depois surgiu o Movietone, da Fox, que imprimia o som na película e acabou com esses problemas de chiado e sincronia.

A utilização do som no cinema levou a uma série de discussões, afinal como o som deveria ser usado?No princípio usavam as músicas para encobrir o silêncio das cenas em que não havia diálogos, as músicas tinham um caráter ilustrativo, principalmente no cinema americano. Já que o Europeu contou com Sergei Eisenstein que desenvolveu teorias de utilização do som para a criação do ambiente. As teorias de Eisenstein só chegaram ao cinema americano em 1939 com o filme Fantasia de Walt Disney. Nesse filme a narrativa e os personagens estão totalmente submetidos à música. O filme não foi um sucesso de público, mas causou grande impacto no meio cinematográfico, pela primeira vez na história do cinema o roteiro do filme passa a ser a música.

Nessa época as trilhas eram quase que totalmente compostas por músicos europeus de grande tradição na música sinfônica, esse tipo de música se adequava perfeitamente a filmes épicos ou românticos, com King-Kong, E o vento Levou, Casablanca… Mas e quanto a comédias, westerns e filmes policiais? No final dos anos 40 surge uma nova geração de músicos para suprir esse tipo de necessidade. As músicas passam a ser mais específicas, e alguns diretores começam a adotar compositores para seus filmes, isso aconteceu com Hitchcock e Bernard Herman (que fez trilhas para Psicose e Um corpo que cai), Spielberg e John Williams (ele fez a trilha e quase todos os filmes do Spielberg, de Tubarão a Inteligência Artificial ), isso cria um clima incrível já que o diretor sabe como o compositor trabalha e vice-versa.

É nos anos 60 que a música pop entra no cinema, a atuação da musica sinfônica se torna mais pontual, surgem os grandes compositores populares e agora as pessoas saiam do cinema cantarolando, Singing in the rain, just singing in the rain, what glorious feeling I’m happy again… ou The hills are alive with the sound of music!

Nos anos 70 e 80 a música pop continuou sendo explorada em detrimento da música sinfônica, hoje as duas andam juntas, geralmente um filme tem uma partitura orquestral fazendo a trilha e a música pop presente na canção-tema. Eu adoraria falar mais sobre a música contemporânea no cinema, mas basta ver os filmes atuais para ver como isso funciona.

Segue aí um top 10 das minhas trilhas favoritas.

1 – Laranja Mecânica – de Genne Kelly a Bethoven a trilha desse filme é totalmente orgástica!

2 – Cinema Paradiso e Malena – As duas trilhas do Ennio Morricone, Cinema Paradiso perderia 80% de sua magia sem a música e o filme Malena não é grnade coisa, mas a trilha é incrível.

3 – aqui houve um empate entre duas trilhas do John Williams
Star Wars – eu particularmente prefiro a do Retorno de Jedi mas todas seguem a mesma tendência e são inesquecíveis.
Tubarão – essa trilha é do John Williams e nem precisa de muitos comentários, foi muito bem usada pelo Spielberg, o tubarão nem precisava aparecer, era só ouvir a música que já sabíamos que ia ter sangue.

4 – O Fabuloso destino de Amelie Poulain – a trilha é do multi-instrumentista Yan Tiersen, mistura música folclórica, pop e erudita, o resultado é uma trilha tão marcante quanto o filme.

5 – Um corpo que cai – trilha do Bernard Herman para um dos melhores filmes do Hitchcock, o aspecto sombrio das músicas combina muito bem com a atmosfera criada pelo Alfred.

6 – Os fantasmas se divertem – a trilha é de Danny Elfman, a sintonia entre ele e o Tim Burton é incrível

7- Pulp Fiction – Quentin Tarantino sempre usa suas canções favoritas em seus filmes, o filme não tem uma música original, mas mistura rock instrumental, jazz, surf music, soul e outras coisas viciantes

8 – Amadeus – Johns Strauss cuidou dessa trilha de forma magistral, e o Millos Forman dirigiu o filme como se a música fosse um personagem, genial!

9 –- E.T – também do John Williams, não dá pra esquecer a cena do E.T voltando pra casa, a do vôo na bicicleta… Músicas incríveis com o doce sabor da infância (clichês bombando)

10 – Quase Famosos ( as canções escolhidas pela Nancy Wilson são incríveis, dá vontade de viajar com uma banda em um ônibus velho)

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"Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça": curiosidades sobre a história da música brasileira

Posted on julho 11, 2007. Filed under: Darwin Marinho, Música |

Na década de 60 ainda não existia MTv, e a Record foi a primeira emissora de Tv a ter a música como principal tema de sua programação,os programas de maior sucesso eram o Bossaudade, o Jovem Guarda e o Fino da Bossa. O Bossaudade era voltado ao público mais velho apresentava números com Cartola, Pixinguinha, Noel Rosa e enfatizava o samba-canção.

O Fino da Bossa ia ao ar as Quartas-feiras 8h da noite, mostrava a Moderna Música Popular Brasileira, era liderado por Elis Regina e Jair Rodrigues. Foi um programa de grande importância pra música, pois serviu como divulgação para um novo estilo que misturava o samba e a bossa nova. Contava com grandes instrumentistas e excelentes diretores (Manoel Carlos, Carlos Manga) o programa juntava música, cinema e teatro.

Como a emissora buscava atingir o público de todas as idades aos domingos ia ao ar o Jovem Guarda, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, esse programa marcou o auge desse estilo musical que surgiu em meados dos anos 50, quando apareceram os primeiros rocks brasileiros, tudo começou quando Cely Campello gravou uma versão de Stupid Cupid (de Neil Sedaka). Surgiram então vários conjuntos (soa mais charmoso que banda) de garagem, um deles, Os Sputniks era formado por Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Tim Maia e outros não tão famosos. Com a ascensão da Bossa Nova o movimento perdeu espaço, mas o rock resistiu nas periferias e em 1963 surgiria um Roberto Carlos renovado cantando Splish-plash, Parei na Contramão e Calhambeque, passou a ser considerado o Rei nesse estilo, junto com ele veio o Erasmo cantando minha fama de Mau e em 1965 estreou o programa Jovem Guarda.

O programa chegava a ter 90% do ibope no horário, o estilo se popularizou e surgiam novos conjuntos a todo o momento, grupos vocais, instrumentais, duplas, enfim, uma infinidade de jovens com calças boca de sino, minissaias, cabelos alisados, roupas coloridas… O que não se pode negar é que esse movimento teve uma fortíssima influencia estrangeira que em alguns momentos se aproximou muito da cópia. O que se produzia não era realmente novo, a maioria das músicas eram versões de músicas do neo-rock inglês ou de bandas de rock chinesas, mas essa foi a maneira que o rock entrou na música brasileira.

Em um belo dia de sol Elis Regina e alguns de seus amigos conservadores do Fino da Bossa resolveram fazer um movimento contra o programa da turma da Roberto, bem, fizeram uma passeata pela “ordem e preservação da cultura nacional” parece até coisa de extrema direita conservadora, mas isso partiu de artistas aparentemente liberais, afinal era um absurdo que enquanto o Fino da Bossa que era um programa extremamente culto tivesse menos ibope e patrocínio que um programa que “tentava impor valores estrangeiros à cultura nacional”. Mas a diminuição do ibope do programa foi um problema causado pelos próprios artistas que o formavam, Elis e Jair estavam tendo problemas em suas carreira solo porque a imagem de um imediatamente era atrelada ao outro, as pessoas iam a um show da Elis e esperavam que o Jair fizesse um dueto com ela e vice-versa. Eles diminuíram as apresentações em dupla no programa e o público foi perdendo o interesse.

Os dois programas tiveram fim junto com a época de ouro da Record. O custo dos programas era muito alto e a emissora não tinha como arcar com os prejuízos dos dois grandes incêndios que destruíram boa parte dos equipamentos.

Moral da história, declarar ódio gratuito a cultura de massa não é uma boa solução, o movimento da Jovem Guarda influenciou muitas bandas interessantes do rock nacional e ainda foi parar no tropicalismo. Sem falar que Ronnie Von chegou a gravar alguns discos psicodélicos enquanto outros membros da Jovem Guarda se aventuravam na música romântica, no brega e no sertanejo. Então se você acha que falar de como funk, calypso e forró eletrônico são insuportáveis vai adiantar alguma coisa, desista! Já existem algumas bandas que sofreram influencia do funk carioca e o som que produzem é considerado o que há de mais moderno na música (Montage e Cansei de Ser Sexy por exemplo). Nossos filhos escutarão uma mistura de forró eletrônico, new metal e electro punk que vai ser insuportável para nossos ouvidos, mas será considerada a música revolucionária da época.

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Audiovisualize

Posted on junho 27, 2007. Filed under: Darwin Marinho, Música |

A imagem é um meio muito poderoso. Política, religião, artes, usam as imagens para passar ideologias, conceitos, sentimentos… Agora junte ao poder dessas imagens a música. Projetar imagens que combinem com sons é uma idéia bem mais antiga do que você pensa. Em 1742 um padre jesuíta, Loius-Bertrand Castel, desenhou um órgão que ascendia luzes diferentes para cada nota musical. Depois vieram os artistas plásticos como Kandinsky, que criou quadros abstratos e expressionistas influenciados pela música, e o cinema experimental de Oskar Fischinger que criou o conceito de música visual, utilizando a música de Bach e Bethoven como elementos essenciais nos seus filmes.Nos anos 60 a banda The Doors inovou ao passar vídeos durante seus shows. Isso foi seguido por várias bandas ao perceberem o efeito que isso tinha sobre o público.

O uso de imagens torna o show mais marcante, tem uma diferença enorme entre ver o T-Rex tocando Children of Revolution sem nenhuma imagem e ver o T-Rex tocando Children of Revolution com imagens de protestos, guerras e destruição da natureza em um telão atrás da banda. Em um dos melhores shows que já fui esse recurso foi explorado de modo genial. Em certo momento uma lua aparecia no fundo do palco e o atravessava durante a canção, em outro momento a imagem de dados presos em uma gaiola representava um canário que não cantava mais, sempre lembro dessas imagens quando ouço essas musicas. Por sinal esse foi o show Universo Particular da Marisa Monte, que passou por aqui no inicio do ano. Outra banda que utilizou as projeções de modo marcante foi o Pink Floyd, não fui a nenhum show, mas já vi o dvd várias vezes e sei do que estou falando, caleidoscópios, lançamentos de naves, explosões, tudo em perfeita sincronia com as músicas.

Na década de 90 com explosão da musica eletrônica isso ficou mais popular, a profissão do VJ ficou mais valorizada e os Artistas Audiovisuais ganharam espaço e respeito. Na musica eletrônica as imagens aparecem como complemento, intensificando o efeito que aquela musica tem sobre a pessoa.

Geralmente as imagens são projetadas depois que as musicas são concebidas, mas dois DJs ingleses, Graham Daniels e Tolly resolveram inovar ao construir músicas a partir de vídeos. O som do filme se tornou a matéria prima da mixagem, um tiro, um estalar de dedos, o ranger de uma porta, um barulho estranho que alguém fez com a boca, tudo vira música. Essa dupla que resolveu tornar tudo áudiovisualizável forma o Addictive TV, eles já fizeram comerciais, trailers, e muitos clips empolgantes. O melhor de tudo é saber que eles fazem isso ao vivo. A dupla fez alguns shows aqui no Brasil a alguns meses, claro que só passaram pelo Sudeste como quase todas as grandes bandas que passam por aqui, infelizmente.

Vídeos do addictive TV:
pra quem tem o Quicktime pode ver no site
pra quem prefere ver no youtube:
remix do Filme Vem dançar:
de Hendrix a Bowie :
esses são os que mais gosto, mas tem outros aqui
Divirta-se!
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O Homem Espetáculo

Posted on junho 20, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |

Em 1952, nasceu um artista em Recife. Aos 12 anos ele já tocava violino, instrumento que lhe abriria portas importantes para o cenário musical. Nos anos 1960, nosso artista se torna membro da Orquestra da Câmara da Paraíba e da Orquestra Sinfônica do Recife. Sua grande habilidade instrumental lhe levou a integrar o Quinteto Armorial, uma das peças do Movimento Armorial, que pretendia renovar cerâmica, tapeçaria, pintura, gravura, teatro, escultura, poesia e música com releituras dessas artes sob a visão da cultura nordestina, recriada pelos inúmeros participantes do movimento, orientado pelo folclorista, teatrólogo e, hoje, membro da Academia Brasileira de Letras, Ariano Suassuna.

Nosso personagem, Antonio Carlos Nóbrega, é um dos responsáveis pela brilhante execução e adaptação de peças populares e medievais para os cantares do romanceiro nordestino. A nova roupagem e personalidade dada àquele tipo de música contou com instrumentos caracteristicamente nordestinos: rabeca, pífano, merimbau, viola sertaneja; além de violino, violão e flauta transversa. O Quinteto lança 4 discos e dissolve-se em 1980. Em 1976, Antonio Nóbrega, somando o conhecimento adquirido sobre cultura popular ao musical erudito e às próprias experiências artísticas, desenvolve seu próprio trabalho. O homem espetáculo continuava se formando.

Em 1983, muda-se para São Paulo com sua esposa e “O maracatu misterioso” inaugura sua fase solo. Com Braulio Tavares e Romero de Andrade Lima, Nóbrega, nos espetáculos “Brincante” e “Segundas histórias”, dá início a saga de “Tonheta”, uma colcha de retalhos de diversos tipos populares que habitam as ruas e praças do Brasil. A epopéia picaresca desse personagem é contada por outros dois: “João Sidurino” e “Rosalina de Jesus” utilizando qualquer linguagem ou forma de comunicação (dança, teatro, música, mímica, circo, ventriloquismo,…)

O multiartista cria com sua esposa, Rosane Almeida, a Escola e Teatro Brincante, centro cultural que promove eventos e cursos. Nos anos 1990, continua ganhando prêmios: dois pelo conjunto de sua obra (Shell, 1994; Mambembe, 1996), outro por melhor show do ano (O Globo, 1996), além do Prêmio APCA de Projeto e Pesquisa Musical do Ano (1996).

Pendendo seu trabalho mais para a música desde 1990, o Antonio Nóbrega lança em 2006 o CD/Espetáculo 9 de Frevereiro¹, trazendo a todos a ciência do centenário do Frevo um ano antes dos festejos.

Superando as acusações de tomar o palco dos verdadeiros mestres populares partindo de pessoas incapazes de diferenciar referências e influências estilísticas de plágio, o homem espetáculo dá continuidade ao trabalho de seu mestre Ariano Suassuna e continua recriando a cultura popular brasileira, perdida em meio a enlatados estrangeiros sem conservantes.

¹ – 9 de Frevereiro é uma alusão à data da primeira aparição do nome frevo na imprensa, no “Jornal Pequeno” no dia 9 de fevereiro de 1907.

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"E tropeçou no céu como se ouvisse música"

Posted on junho 13, 2007. Filed under: Darwin Marinho, Música |

A música tem a capacidade de nos transportar para um plano mais elevado, por serem carregadas de sentimentos nos levam a experimentar as mais diferentes sensações. Veja o trecho de “Certas canções” de Milton Nascimento:

“(…) Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor (…)”

A música pode ser vista como forma de catarse, em “Minha voz minha vida” Caetano usa a expressão, “seu calor escraviza, mas é a única libertação”.
Em “A Banda”, de Chico Buarque, o trecho “a minha gente sofrida despediu-se da dor pra ver a banda cantando coisas de amor” mostra a capacidade da música de nos afastar dos problemas, é como se a música pudesse servir de consolo depois de uma grande dor. “A Banda” é uma crônica que mostra como a passagem de uma banda em uma rua tediosa liberta as pessoas de suas vidas tacanhas pelo menos por alguns minutos. Isso se repete em outras músicas do Chico, em “Olê, Olá” ele pede para “a amiga” não chorar enquanto ainda tem samba no fim da música o samba acaba e diz “e agora minha amiga já pode chorar”; em Tem Mais Samba, “Que o bom samba não tem lugar nem hora, O coração de fora Samba sem querer, Vem que passa Teu sofrer” Essas músicas dialogam diretamente com quem está ouvindo fazendo um convite para o samba, o que também acontece em uma do Roberto Carlos onde ele fala “Não quero ver você tão triste assim” e também em “Nossa Canção” que ilustra perfeitamente o abandono, é uma canção de despedida, triste, mas no fim dá uma certa esperança, é muito fácil se imaginar na situação contada através dessa letra, já que quase todo mundo deve ter passado por algo parecido.

Caetano e Vinicius de Moraes falam da tristeza como o ingrediente essencial para fazer uma canção em Desde que o Samba é Samba do Caê, “A tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim” e em Samba da Benção do Vinicius, “mas pra fazer um samba com beleza é preciso de um bocado de tristeza…” E Marisa Monte mostra uma das faces da música com que mais me identifico a nostalgia, a canção “Esta melodia” ilustra muito bem isso. Por ser cheia de emoções, verdadeiras ou fingidas, a música nos transporta para um mundo criado pelo compositor, nos fazendo mergulhar em seus sentimentos. Agora me lembrei de uma cena do filme Amadeus, eu sei que essa não é a coluna de cinema mas preciso contar, um dos personagens do filme, Salieri, diz que ouvir a música de Mozart era como ouvir a própria voz de Deus, isso é uma tentativa de mostrar o caráter divino da música.

Triste, alegre, nostálgica, melancólica, divina, pagã, seja como for só não deixe de ouvi-la, e não subestime o poder de uma boa música.
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Música no museu, e de graça!

Posted on junho 6, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |


O “Música no Museu”, como o próprio nome sugere, consiste na união de música e artes plásticas em ambientes como museus, centros culturais, estações de metrô, igrejas, sinagogas, fazendas… Proporcionando, assim, uma alta densidade cultural. O evento permite a integração entre jovens e consagrados instrumentistas, incentivando os novos talentos da música; a formação de novas platéias, pois possui um repertório eclético dentro da música clássica e da popular provocando a quebra de barreiras entre a música clássica e outros gêneros. Além do incentivo a visitação de museus.

No Brasil, o projeto teve início em 1997 no Rio de Janeiro, por Sérgio da Costa e Silva. Com o tempo expandiu-se para São Paulo, Florianópolis, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e muitas outras. Trazendo espetáculos temáticos sobre a exposição e agradando os espectadores, o projeto mantém o sucesso inicial. Tal expansão atingiu o nordeste este ano, com patrocínio do BNDES dentro da Lei Rouanet¹. O evento já aconteceu em Salvador, Bahia; Aracaju e São Cristóvão, Sergipe; Maceió e Deodoro, Alagoas; Recife e Olinda, Pernambuco; Natal, Rio Grande do Norte. Desconhece-se o motivo por Fortaleza, uma das grandes capitais do país, estar de fora de um evento cultural desta importância, no qual artistas brasileiros e estrangeiros, em solos e em grupos, promovem verdadeiros espetáculos para um público que já supera 180 mil pessoas nesses 10 anos. O perfil desse público é, na maioria, de pessoas da terceira idade, mas também conta com jovens interessados e alunos de escolas e universidades públicas, convidados pelo idealizador do projeto. As apresentações anuais do Música no Museu são divididas em 5 temporadas: Verão, Outono, Inverno, Primavera e Concertos de Natal.

Dentro do Música no Museu acontece o Festival Internacional de Harpas do Rio de Janeiro, hoje na sua segunda edição. Esse festival conta com o patrocínio da PETROBRÁS e das embaixadas e consulados dos 25 países envolvidos. A programação conta com 70 apresentações em 46 locais (museus, estações de metrô, Palácios do Itamaraty e de São Clemente,….). O homenageado do festival é Nicanor Zabaleta, considerado maior harpista do século passado.

A música brasileira e sul-americana, de Chiquinha Gonzaga² e Astor Piazzolla³ , por exemplo, estão no repertório interpretado por grandes nomes da música nacional como Turíbio Santos, Rosana Lanzellote, Paulo Moura, Nélson Freire e por revelações da música como Pablo Rossi, vencedor do Prêmio Nélson Freire de Piano. Músicas de Beethoven, Bach e do contemporâneo George Gershwin também estão incluídas nesse repertorio, evidenciando-se a qualidade musical do evento.

Algumas cidades estão fora do projeto por não terem profissionais especializados em Música Antiga e assim dificultar a execução da parte tradicional do repertório que necessita de instrumentos também tradicionais, como guitarra barroca, viola de gamba. Seria esse o motivo de Fortaleza estar de fora? Seria uma falta de incentivo à cultura do Governo do Estado? Ou seria uma despreocupação da Prefeitura Municipal com esse tipo de música? Uma coisa é fato: pouquíssimas pessoas comentam em suas conversas a existência desse tipo de música no Estado. Essa fraqueza da cultura de música intrumental se junta com o desinteresse de alguns em promover espetáculos como esse no Ceará. Parece que só sabemos nos divertir em shows, em festas e em cinemas. Não é surpresa nenhuma ver que os espetáculos teatrais também são pouco valorizados e que estes profissionais atuam com grande dificuldade, como já mostrou o Daniel Bandeira em sua coluna. É uma pena termos uma agenda cultural tão limitada.

¹ Lei Federal de Incentivo à Cultura, usada por empresas e pessoas físicas que desejam financiar projetos culturais.
² conhecida pelo grande público pela marchinha de carnaval “Ó Abre Alas”
³ conhecido pelo grande público pelo seu tango na trilha sonora de “Perfume de Mulher”

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"E ver um mundo novo, sair do meu aquário"

Posted on maio 30, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |


Vivemos em um país de grandes extensões territorias e, como em qualquer parte do mundo, as manifestações artísticas nao acontecem numa seqüência lógica. Então por onde deveríamos começar o nosso garimpo?
Que tal se começássemos por um estado que tem um incentivo à cultura tão baixo a ponto de inviabilizar o acontecimento de movimentos como o “Música no Museu”, que percorre museus do país divulgando e trazendo conhecimentos da sonoridade de instrumentos musicais como a harpa? Acho que seria uma boa idéia… Então, vamos começar pelo Ceará.
Com o auxílio de amigos e de poucas emissoras de tv e rádio que cedem algum espaço às bandas locais, chegamos a uma lista encabeçada pela banda Brevis.

Brevis significa o que realmente parece: breve, curta duração. Quem garante? Formada em 2005, por cinco rapazes (Miguel Cordeiro – Vocal; David Rodrigues – Guitarra e Vocal; Jorge Roque – Guitarra; JJ – Baixo; Paulo Victor “Bolinha” – Bateria) de Fortaleza, a banda já tem um currículo respeitável: uma apresentação no “Festival Ceará de Música” e duas na “maior boate da América Latina” ao lado de Fresno (RS) e Forfun (RJ), mesmo fazendo um som diferente das bandas de emocore citadas.
A banda Brevis faz um som contemporâneo, ou seja, de difícil classificação. Talvez esse seja seu diferencial. O que vai nessa caldeira não são diretamente os clássicos do rock. A banda junta o post rock¹ do Sigur Ros e post hardcore² do The Used e Finch. Por essa leve versatilidade, alternando estilos diferentes nas suas composições, a Brevis vem ganhando seu espaço.

A Brevis parece já ter encontrado o seu caminho dentro das composições e a receptividade tem sido muito boa. As letras, falando de angústias introspectivas em tons confessionais, já renderam à banda apresentações em grandes eventos do estado, como o Ceará Music, e em grandes boates como Mucuripe Club, sem abandonar os ambientes que lhes apresentaram ao público cearense, como Hey Ho Rock Bar.
Não nos cabe dizer a quem nos lê se a banda, no caso, apresentada é boa ou ruim. Todos nós temos a nossa opinião formada quanto ao que nos agrada e você, leitor, sabe o que é lhe agrada e o que não.

¹ (mistura de rock progressivo, Pink Floyd, por exemplo, com o rock alternativo, Beck, Jet, Coldplay…)
² (a versão mais recente do hardcore).

*Mais informações, músicas da banda, fotos…:
Título: Aquário de Coisas – Brevis

http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=37321
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8216835
http://www.youtube.com/watch?v=DyaA1IpxGKY
http://www.fotolog.com/brevisrock

*Agradecimentos:
Lívio Rocha – www.deverasperfido.blogspot.com

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EmFormação Musical

Posted on maio 23, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |



O tempo insiste em passar. Não há remédio. As coisas evoluem. Crescem. Algumas nem tanto quanto se esperava. Outras, mais do que se esperava.

A música, assim como as outras formas de expressão e comunicação do ser humano, continua caminhando para frente. Por mais que nosso saudosismo insista em lembrar nossos ídolos como perfeitos e infinitamente melhores que os da geração seguinte, devemos ter a consciência de que o tempo passa e as coisas evoluem. Falando de música então…

Por isso, não podemos deixar passar despercebido o trabalho original feito por músicos Brasil adentro, nem o trocar pelo de suas influências, hoje aposentadas, ou muito menos por músicas de 3 minutos, que repete o refrão 5 vezes antes de repetir a letra inteira outras 3, servindo como chiclete nas mentes dos jovens e como lucro para gravadoras e empresários de vários tipos.

As formas de expressão da música cresceram bastante nos últimos anos. Várias batidas originais surgiram. Várias batidas já existentes foram aperfeiçoadas. Outras pouco mudaram, mas seus representantes dão um ar diferente e renovado ao estilo.

Muitas histórias serão contadas, a magia de um teatro em São Paulo, a redescoberta da batalha de indíos e ingleses na Ilha do Bananal provocando o surgimento de móveis do Brasil Colônia em Brasília, um cordel encantado no sertão de Pernambuco, a reinvenção do reggae de uma tribo do Maranhão, sem esquecer uma jumenta, hoje em planos superiores, que pariu uma mistura de forró e rock no Ceará…

Não cabe em um baú de cinzas, nem em versos. Não há redoma que proteja ou que a isole. A música, assim como o tempo, não pára.

E enquanto ela acontece bem debaixo dos nossos narizes, somos obrigados a cheirar a fuligem do filho do dono do Snoopy, e o odor podre de mortos-vivos que sobrevivem da merecida glória do passado que influenciou (ou não) as novidades, mas que se esqueceram de morrer ou da continuidade da vida.

Nosso intuito é informar a existência de músicos que buscam uma identidade no seu trabalho, o que gera múltiplas opiniões a respeito desse trabalho, enriquecendo a cultura dos jovens e lhes fornecendo argumentos diferentes do ambíguo “não gosto, é modinha” ou do vazio “adoro, toca na novela, na academia, no intervalo do colégio…”, além de promover a identificação dos jovens com a nova música.

Bem-vindos ao EmFormação Musical!

Agradecimentos/Créditos:
Alegoria da Caverna – pela música que está tocando “Não é pra qualquer um!”
Malvados, site do autor da tirinha: http://www.malvados.com.br/

PS.: para ler ouvindo o som do Alegoria da Caverna – Não é pra qualquer um!
só clicar ali no canto no final da pagina no player 😀

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