Bruno Preá

O Homem Espetáculo

Posted on junho 20, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |

Em 1952, nasceu um artista em Recife. Aos 12 anos ele já tocava violino, instrumento que lhe abriria portas importantes para o cenário musical. Nos anos 1960, nosso artista se torna membro da Orquestra da Câmara da Paraíba e da Orquestra Sinfônica do Recife. Sua grande habilidade instrumental lhe levou a integrar o Quinteto Armorial, uma das peças do Movimento Armorial, que pretendia renovar cerâmica, tapeçaria, pintura, gravura, teatro, escultura, poesia e música com releituras dessas artes sob a visão da cultura nordestina, recriada pelos inúmeros participantes do movimento, orientado pelo folclorista, teatrólogo e, hoje, membro da Academia Brasileira de Letras, Ariano Suassuna.

Nosso personagem, Antonio Carlos Nóbrega, é um dos responsáveis pela brilhante execução e adaptação de peças populares e medievais para os cantares do romanceiro nordestino. A nova roupagem e personalidade dada àquele tipo de música contou com instrumentos caracteristicamente nordestinos: rabeca, pífano, merimbau, viola sertaneja; além de violino, violão e flauta transversa. O Quinteto lança 4 discos e dissolve-se em 1980. Em 1976, Antonio Nóbrega, somando o conhecimento adquirido sobre cultura popular ao musical erudito e às próprias experiências artísticas, desenvolve seu próprio trabalho. O homem espetáculo continuava se formando.

Em 1983, muda-se para São Paulo com sua esposa e “O maracatu misterioso” inaugura sua fase solo. Com Braulio Tavares e Romero de Andrade Lima, Nóbrega, nos espetáculos “Brincante” e “Segundas histórias”, dá início a saga de “Tonheta”, uma colcha de retalhos de diversos tipos populares que habitam as ruas e praças do Brasil. A epopéia picaresca desse personagem é contada por outros dois: “João Sidurino” e “Rosalina de Jesus” utilizando qualquer linguagem ou forma de comunicação (dança, teatro, música, mímica, circo, ventriloquismo,…)

O multiartista cria com sua esposa, Rosane Almeida, a Escola e Teatro Brincante, centro cultural que promove eventos e cursos. Nos anos 1990, continua ganhando prêmios: dois pelo conjunto de sua obra (Shell, 1994; Mambembe, 1996), outro por melhor show do ano (O Globo, 1996), além do Prêmio APCA de Projeto e Pesquisa Musical do Ano (1996).

Pendendo seu trabalho mais para a música desde 1990, o Antonio Nóbrega lança em 2006 o CD/Espetáculo 9 de Frevereiro¹, trazendo a todos a ciência do centenário do Frevo um ano antes dos festejos.

Superando as acusações de tomar o palco dos verdadeiros mestres populares partindo de pessoas incapazes de diferenciar referências e influências estilísticas de plágio, o homem espetáculo dá continuidade ao trabalho de seu mestre Ariano Suassuna e continua recriando a cultura popular brasileira, perdida em meio a enlatados estrangeiros sem conservantes.

¹ – 9 de Frevereiro é uma alusão à data da primeira aparição do nome frevo na imprensa, no “Jornal Pequeno” no dia 9 de fevereiro de 1907.

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Música no museu, e de graça!

Posted on junho 6, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |


O “Música no Museu”, como o próprio nome sugere, consiste na união de música e artes plásticas em ambientes como museus, centros culturais, estações de metrô, igrejas, sinagogas, fazendas… Proporcionando, assim, uma alta densidade cultural. O evento permite a integração entre jovens e consagrados instrumentistas, incentivando os novos talentos da música; a formação de novas platéias, pois possui um repertório eclético dentro da música clássica e da popular provocando a quebra de barreiras entre a música clássica e outros gêneros. Além do incentivo a visitação de museus.

No Brasil, o projeto teve início em 1997 no Rio de Janeiro, por Sérgio da Costa e Silva. Com o tempo expandiu-se para São Paulo, Florianópolis, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e muitas outras. Trazendo espetáculos temáticos sobre a exposição e agradando os espectadores, o projeto mantém o sucesso inicial. Tal expansão atingiu o nordeste este ano, com patrocínio do BNDES dentro da Lei Rouanet¹. O evento já aconteceu em Salvador, Bahia; Aracaju e São Cristóvão, Sergipe; Maceió e Deodoro, Alagoas; Recife e Olinda, Pernambuco; Natal, Rio Grande do Norte. Desconhece-se o motivo por Fortaleza, uma das grandes capitais do país, estar de fora de um evento cultural desta importância, no qual artistas brasileiros e estrangeiros, em solos e em grupos, promovem verdadeiros espetáculos para um público que já supera 180 mil pessoas nesses 10 anos. O perfil desse público é, na maioria, de pessoas da terceira idade, mas também conta com jovens interessados e alunos de escolas e universidades públicas, convidados pelo idealizador do projeto. As apresentações anuais do Música no Museu são divididas em 5 temporadas: Verão, Outono, Inverno, Primavera e Concertos de Natal.

Dentro do Música no Museu acontece o Festival Internacional de Harpas do Rio de Janeiro, hoje na sua segunda edição. Esse festival conta com o patrocínio da PETROBRÁS e das embaixadas e consulados dos 25 países envolvidos. A programação conta com 70 apresentações em 46 locais (museus, estações de metrô, Palácios do Itamaraty e de São Clemente,….). O homenageado do festival é Nicanor Zabaleta, considerado maior harpista do século passado.

A música brasileira e sul-americana, de Chiquinha Gonzaga² e Astor Piazzolla³ , por exemplo, estão no repertório interpretado por grandes nomes da música nacional como Turíbio Santos, Rosana Lanzellote, Paulo Moura, Nélson Freire e por revelações da música como Pablo Rossi, vencedor do Prêmio Nélson Freire de Piano. Músicas de Beethoven, Bach e do contemporâneo George Gershwin também estão incluídas nesse repertorio, evidenciando-se a qualidade musical do evento.

Algumas cidades estão fora do projeto por não terem profissionais especializados em Música Antiga e assim dificultar a execução da parte tradicional do repertório que necessita de instrumentos também tradicionais, como guitarra barroca, viola de gamba. Seria esse o motivo de Fortaleza estar de fora? Seria uma falta de incentivo à cultura do Governo do Estado? Ou seria uma despreocupação da Prefeitura Municipal com esse tipo de música? Uma coisa é fato: pouquíssimas pessoas comentam em suas conversas a existência desse tipo de música no Estado. Essa fraqueza da cultura de música intrumental se junta com o desinteresse de alguns em promover espetáculos como esse no Ceará. Parece que só sabemos nos divertir em shows, em festas e em cinemas. Não é surpresa nenhuma ver que os espetáculos teatrais também são pouco valorizados e que estes profissionais atuam com grande dificuldade, como já mostrou o Daniel Bandeira em sua coluna. É uma pena termos uma agenda cultural tão limitada.

¹ Lei Federal de Incentivo à Cultura, usada por empresas e pessoas físicas que desejam financiar projetos culturais.
² conhecida pelo grande público pela marchinha de carnaval “Ó Abre Alas”
³ conhecido pelo grande público pelo seu tango na trilha sonora de “Perfume de Mulher”

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"E ver um mundo novo, sair do meu aquário"

Posted on maio 30, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |


Vivemos em um país de grandes extensões territorias e, como em qualquer parte do mundo, as manifestações artísticas nao acontecem numa seqüência lógica. Então por onde deveríamos começar o nosso garimpo?
Que tal se começássemos por um estado que tem um incentivo à cultura tão baixo a ponto de inviabilizar o acontecimento de movimentos como o “Música no Museu”, que percorre museus do país divulgando e trazendo conhecimentos da sonoridade de instrumentos musicais como a harpa? Acho que seria uma boa idéia… Então, vamos começar pelo Ceará.
Com o auxílio de amigos e de poucas emissoras de tv e rádio que cedem algum espaço às bandas locais, chegamos a uma lista encabeçada pela banda Brevis.

Brevis significa o que realmente parece: breve, curta duração. Quem garante? Formada em 2005, por cinco rapazes (Miguel Cordeiro – Vocal; David Rodrigues – Guitarra e Vocal; Jorge Roque – Guitarra; JJ – Baixo; Paulo Victor “Bolinha” – Bateria) de Fortaleza, a banda já tem um currículo respeitável: uma apresentação no “Festival Ceará de Música” e duas na “maior boate da América Latina” ao lado de Fresno (RS) e Forfun (RJ), mesmo fazendo um som diferente das bandas de emocore citadas.
A banda Brevis faz um som contemporâneo, ou seja, de difícil classificação. Talvez esse seja seu diferencial. O que vai nessa caldeira não são diretamente os clássicos do rock. A banda junta o post rock¹ do Sigur Ros e post hardcore² do The Used e Finch. Por essa leve versatilidade, alternando estilos diferentes nas suas composições, a Brevis vem ganhando seu espaço.

A Brevis parece já ter encontrado o seu caminho dentro das composições e a receptividade tem sido muito boa. As letras, falando de angústias introspectivas em tons confessionais, já renderam à banda apresentações em grandes eventos do estado, como o Ceará Music, e em grandes boates como Mucuripe Club, sem abandonar os ambientes que lhes apresentaram ao público cearense, como Hey Ho Rock Bar.
Não nos cabe dizer a quem nos lê se a banda, no caso, apresentada é boa ou ruim. Todos nós temos a nossa opinião formada quanto ao que nos agrada e você, leitor, sabe o que é lhe agrada e o que não.

¹ (mistura de rock progressivo, Pink Floyd, por exemplo, com o rock alternativo, Beck, Jet, Coldplay…)
² (a versão mais recente do hardcore).

*Mais informações, músicas da banda, fotos…:
Título: Aquário de Coisas – Brevis

http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=37321
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8216835
http://www.youtube.com/watch?v=DyaA1IpxGKY
http://www.fotolog.com/brevisrock

*Agradecimentos:
Lívio Rocha – www.deverasperfido.blogspot.com

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EmFormação Musical

Posted on maio 23, 2007. Filed under: Bruno Preá, Música |



O tempo insiste em passar. Não há remédio. As coisas evoluem. Crescem. Algumas nem tanto quanto se esperava. Outras, mais do que se esperava.

A música, assim como as outras formas de expressão e comunicação do ser humano, continua caminhando para frente. Por mais que nosso saudosismo insista em lembrar nossos ídolos como perfeitos e infinitamente melhores que os da geração seguinte, devemos ter a consciência de que o tempo passa e as coisas evoluem. Falando de música então…

Por isso, não podemos deixar passar despercebido o trabalho original feito por músicos Brasil adentro, nem o trocar pelo de suas influências, hoje aposentadas, ou muito menos por músicas de 3 minutos, que repete o refrão 5 vezes antes de repetir a letra inteira outras 3, servindo como chiclete nas mentes dos jovens e como lucro para gravadoras e empresários de vários tipos.

As formas de expressão da música cresceram bastante nos últimos anos. Várias batidas originais surgiram. Várias batidas já existentes foram aperfeiçoadas. Outras pouco mudaram, mas seus representantes dão um ar diferente e renovado ao estilo.

Muitas histórias serão contadas, a magia de um teatro em São Paulo, a redescoberta da batalha de indíos e ingleses na Ilha do Bananal provocando o surgimento de móveis do Brasil Colônia em Brasília, um cordel encantado no sertão de Pernambuco, a reinvenção do reggae de uma tribo do Maranhão, sem esquecer uma jumenta, hoje em planos superiores, que pariu uma mistura de forró e rock no Ceará…

Não cabe em um baú de cinzas, nem em versos. Não há redoma que proteja ou que a isole. A música, assim como o tempo, não pára.

E enquanto ela acontece bem debaixo dos nossos narizes, somos obrigados a cheirar a fuligem do filho do dono do Snoopy, e o odor podre de mortos-vivos que sobrevivem da merecida glória do passado que influenciou (ou não) as novidades, mas que se esqueceram de morrer ou da continuidade da vida.

Nosso intuito é informar a existência de músicos que buscam uma identidade no seu trabalho, o que gera múltiplas opiniões a respeito desse trabalho, enriquecendo a cultura dos jovens e lhes fornecendo argumentos diferentes do ambíguo “não gosto, é modinha” ou do vazio “adoro, toca na novela, na academia, no intervalo do colégio…”, além de promover a identificação dos jovens com a nova música.

Bem-vindos ao EmFormação Musical!

Agradecimentos/Créditos:
Alegoria da Caverna – pela música que está tocando “Não é pra qualquer um!”
Malvados, site do autor da tirinha: http://www.malvados.com.br/

PS.: para ler ouvindo o som do Alegoria da Caverna – Não é pra qualquer um!
só clicar ali no canto no final da pagina no player 😀

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