Maria Laura
Vai um cordel aí?
Cordel de São João – Gustavo Dourado
São João arrasta-pé:
Forró, fogueira, baião…
Xote, xaxado e quadrilha…
Foguete, bomba, balão…
Caruaru-Campina Grande: São João bom é no Sertão…
[…]
No são João hoje em dia:
Tudo está muito mudado…
Tem show e festa em clube:
Se perdeu o rebolado…
Saudade do ao João:
No terreiro e no roçado…
No São João de minha infância:
Não tinha eletricidade…
A luz era à luz da lua:
Tinha estrelicidade…
Do São João de menino:
Lembro e morro de saudade!
Esta poesia popular traz, em suas entrelinhas, muito da real expressão nordestina, podendo transportar aos nossos corações a angústia de um agricultor na seca; a esperança do retirante ou, e principalmente, a alegria de ser alguém que enxerga nas próprias mãos calejadas a prova do trabalho honesto que, se muitas vezes não alimenta o corpo, tranqüiliza a alma.
Como nordestina orgulhosa que sou, admito que talvez exista no meu falar um certo tom de “apropriação”, afinal não podemos esquecer que em outras regiões do Brasil existem pessoas que também se dedicam a esta arte. É que penso que a partir do momento em que você passa a ver alguma coisa como símbolo seu, você se sente no direito de tomar posse dela, e foi em nossa terra que o cordel ganhou forma.
“Apesar dos altos índices de analfabetismo, a popularização da literatura de cordel foi possível porque os poetas cordelistas contavam suas histórias nas feiras e praças, muitas vezes ao lado de músicos. Os folhetos eram pendurados em barbantes (daí o nome Cordel) ou amontoados no chão, despertando a atenção dos transeuntes. Cabe ressaltar que as feiras nordestinas eram verdadeiras festas para o povo do sertão, nas quais podiam, além de comprar e vender seus produtos, divertir-se e se inteirar dos assuntos políticos e sociais.”, afirma A.A de Mendonça em seu texto “A História da Literatura de Cordel”.
O fato é que o cordel não pode ser definido apenas como uma poesia narrativa impressa, pois ele é, acima de tudo, POPULAR. Então, independente de você ser um bom escritor ou não, nordestino ou não, leitor de cordéis ou não, você faz parte do povo, logo essa arte também é sua.
Então, que não apenas nessa época de São João, nós, citadinos e sertanejos, possamos colocar as nossas vidas lado a lado em um mesmo cordão: a LITERATURA DE CORDEL.
Comece agora:
Na internet
Folhetos de Cordel
Academia Brasileira de Literatura de Cordel
Manifesto a favor da literatura de cordel
Nas livrarias
Literatura de Cordel, Sebastião Vila Nova
Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel, ABLC
Vertentes & Evolução da Literatura de Cordel, Gonçalo F. da Silva
XIII Antologia Brasileira de Literatura de Cordel , ABLC 96 páginas À venda na ABLC pelo telefone (21) 2232-4801, na parte da tarde a R$10,. A promoção de 10 antologias por R$50, ainda está valendo.
OS HOMENS QUE SE CHAMAVAM SONHOS
O nome do grupo, Clube da Esquina, veio do próprio local de encontro, um cruzamento entre as esquinas Divinópolis e Paraizópolis. Os garotos queriam fazer música, poesia e, naquele local, sentiam-se livres para se divertir, reunir os amigos, somar seus talentos e, mesmo que não fossem considerados pela mídia e por alguns estudiosos como movimento, os mineirinhos já estavam condenados a fazer a vida de muita gente mais harmoniosa com suas canções.
Eles sofreram influência do jazz, The Beatlhes, Bossa Nova, Choros, Folias de Reis, Toadas, Congos e Rock Progressivo. Mas, a consolidação de uma linguagem própria se firmou, em 1972,
com o lançamento do disco ‘Clube da Esquina’, assinado por Milton Nacimento e Lô Borges, contando com a participação em peso de todos os membros do grupo de amigos.
A grande força poética do movimento, vem, além do talento de seus integrantes, do quadro histórico em que ele surgiu – a Ditadura Militar – pois, optando por não travar uma luta frontal contra o regime, acabaram adotando uma postura mais poética, plantando girassóis metafóricos numa terra adubada com gás lacrimogêneo e censura.
Diferentemente da Jovem Guarda, o Clube manteve uma temática política presente, mas de forma subjetiva. As letras das canções, em geral, revelavam uma tendência a construções mais abstratas – como em ‘Um girassol da cor de seu vestido’ – com imagens e metáforas que talvez ficassem distantes de uma tradição poética da música brasileira da época. Nos poemas, nem sempre se podia tirar alguma moral ou mensagem. Sobre isso, Márcio Borges sintetizou um pensamento literário que pode ser estendido a outros poetas do grupo em suas letras: ‘Pelo menos não viessem me falar de mensagens… ‘Qual a mensagem dessa letra?’ Como se um poema pudesse funcionar como cabograma ou sinal de fumaça.’
Os garotos da esquina transformaram em poesia suas paixões juvenis e seus anseios por justiça social. Uniram poema e música numa só constelação. Embriagados pelos sons das três Américas, eles brindaram o hibridismo e a diversidade da Música Popular Brasileira com um talento sem igual.
Milton nos deu sua voz, Lô Borges o seu som genial. Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Márcio Borges traduziram nas letras os nossos sentimentos. Cafi, com sua fotografia, registrou cada detalhe desta jornada. Beto Guedes doou seus acordes fantásticos. Eumir Deodato e Wagner Tiso reconstruíram formas narrativas completas em orquestrações majestosas. E o restante do Clube da Esquina embarcou com eles nessa ousadia, pois, lá, os que se chamavam homens também se chamavam sonhos. E sonhos não envelhecem!
Para saber mais: Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina, Márcio Borges (Editora Geração Editorial; São Paulo; 3º edição; 358 páginas, 1996)